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Numa entrada anterior escrevi que: «Seria estúpido, e completamente trágico, que nesta altura não atingíssemos o nosso objectivo, apenas porque alguns macacos pretendessem chegar mais acima, saltando para o tronco que outros já ocupam, e fazendo com que todos acabássemos estatelados no meio do chão.»

Quem me conhece, e convive comigo mais de perto, sabe que detesto ter razão antes do tempo. Sobretudo porque isso significa, na maior parte da vezes, que se perdeu uma oportunidade de fazer as coisas bem feitas e de todos sairmos a ganhar.

Pouco mais de 24 horas passadas sobre essa entrada constato que à euforia e satisfação que se podia ler aqui, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui, se segue algum desencanto (quiçá receio ou desespero) porque organizações que têm milhares de filiados não parecem dispostas a seguir agendas que lhes são impostas sem negociação ou agendamento prévio (como se pode depreender do que aquiaqui  ou aqui se pode ler. 

Façamos um esforço para ver para lá das cortinas de fumo e dos jogos de sombras chinesas que nos ocultam a realidade.

A quem interessa esta disputa entre “movimentos independentes” e movimento sindical? Qual o lugar dos professores (que quotidianamente trabalham nas escolas) nesta disputa e que papel lhes cabe nas lutas que se avizinham?

Em primeiro lugar temos que perceber porque é que no sábado (dia 11/10), a dois dias da reunião da Plataforma Sindical e a três dias da reunião entre os Sindicatos e o ministério, duas “organizações” de professores com existência pouco mais que virtual (não se conhecem os estatutos, os órgãos sociais, o regulamento de associados ou o regulamento de quotização, que deviam ser públicos) resolveram “marcar” para dia 15/11 uma manifestação em Lisboa.

Obviamente que a data já vinha a ser falada na rede (em mails, foruns e blogues). É claro que a relevância da data pouco interessa para o caso, como pouco poderá interessar quem se pôs em bicos de pés e quis ficar na fotografia.

Agora o que é relevante e não pode ser ignorado é que há muito tempo se sabia que a Plataforma Sindical tem uma reunião agendada para dia 14/10 (terça-feira) e que tudo o que a ministra, o governo e o PS mais queriam era poder chegar à reunião com uma posição de vítimas incompreendidas, porque os professores não queriam negociar e já tinham um protesto agendado.

Alguém, com dois dedos de testa e um mínimo de sensibilidade política, podia esperar que a posição dos dirigentes sindiacais, em vésperas de uma reunião negocial fosse: «Vamos reunir para negociar aspectos decisivos, mas já marcámos uma manifestação nacional para dia tantos de tal»?

A posição que o Miguel Pinto tomou era bastante avisada, apesar das incompreensões que possa ter gerado na blogosfera docente.

Na verdade é preciso reconhecer que entre a realidade virtual dos blogues e das listas de discussão e o exercício real da cidadania no terreno, nas manifestações, ou simplesmente na resistência em cada escola há um mundo de diferenças.

Não sei quantos professores visitam diariamente o blogue do Guinote e o do Ramiro e mais uns quantos blogues que têm muitas participações. Imaginemos até que são dez ou quinze  mil. Desses, quantos é que virão a Lisboa, se não houver uma organização que trate de toda a logística? E dos que ainda assim estarão dispostos a vir por sua conta e risco, quantos virão se a marcha for simultaneamente contra o ministério e contra os sindicatos, como ainda ontem anunciou um dos promotores da iniciativa, num comentário no Umbigo?

Quem ganha com esta guerra fratricida? Porque não foi possível esperar pelo resultado da reunião de amanhã? A quem beneficiou (ou vai beneficiar) a reunião de sábado nas Caldas?

Claro que ainda poderá acontecer que, depois da reunião com o ministério, os dirigentes sindicais tenham o bom senso e o jogo de cintura suficiente para anunciar que vão marcar uma grande manifestação de protesto para dia 15 de Novembro. Não porque vão a reboque de meninos que querem medir o tamanho das suas pilas, mas porque sabem ouvir o pulsar das escolas e querem dar voz à revolta de milhares de professores que não se resignam e que querem uma Escola Pública de Qualidade para Todo@s, um ECD diferente, uma avaliação da organização escolar que permita a melhoria dos processos e, por essa via, promova a melhoria das aprendizagens escolares, alicerçada numa administração e numa gestão que seja norteada por princípios de democracia e liberdade.

A nós professores, que nas escolas temos que nos confrontar com o autoritarismo do ministério, com a incompetência e a má-fé de muitos PCE’s desejosos de chegar a directores e com a cobardia de muitos coordenadores de departamento/avaliadores (mesmo quando são dirigentes de “movimentos independentes” ansiosos de protagonismo), compete-nos resistir no nosso posto de trabalho, mobilizar os colegas receosos e/ou indecisos e estar presentes em todos os protestos convocados por quem tem legitimidade e capacidade para o fazer.

VAMOS A ISSO COMPANHEIR@