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Começa a desenhar-se, entre alguns professores bloguers e respectivos comentadores, um debate em torno da forma mais correcta de reagir à avaliação de desempenho.
Há já muitos meses que o P.Guinote é um defensor acérrimo da exigência e do rigor, declarando-se completamente contrário às simplificações como por exemplo aqui e aqui.
Também há bastante tempo o RamiroM. vem defendendo posição contrária, argumentando que «o único objectivo realista é lutar pela simplificação do actual modelo». Nessa procura de simplificação, o Ramiro tem-se desdobrado na divulgação de fichas de avaliação, no que é acompanhado por muitos outros colegas.
Num outro registo, o JMA e a Mª do Carmo Cruz que assina Avó Pirueta, argumentam a favor da existência da avaliação pelo seu carácter formativo e reflexivo, esquecendo que o que está em análise é um modelo concreto de avaliação de desempenho, que de formativo e reflexivo pouco ou nada tem.
Em torno destas posições surge agora o MiguelPinto que propõe uma reflexão atenta e cuidada sobre o modelo de avaliação que temos em cima da mesa. Para começo de conversa o Miguel acha que o seu destino deve ser o caixote do lixo o que me parece um excelente desejo, embora de concretização complicada (mesmo a médio/longo prazo).
O Miguel começa por se debruçar sobre o quadro de referência do modelo e constata tratar-se de um híbrido (o que desde logo limita a sua capacidade reprodutiva). E de forma muito certeira aponta a incongruência entre reflexividade e robotização. De facto, é impossível que se peça a alguém para exercer a sua profissão de forma reflexiva, numa perspectiva de melhoria contínua de processos e de resultados e, em simultâneo, se exija à mesma pessoa que cumpra as prescrições das chefias sem as questionar.
Isto decorre da tensão que existe entre os modelos organizacionais propostos para a escola. Com o modelo de avaliação e o modelo de gestão que a lei consagra temos uma organização piramidal, burocratizada e taylorizada. Pode até a ministra da educação declarar quotidianamente o seu amor à descentralização, mas os seus directores gerais continuarão a disputar o poder aos seus directores regionais, que por sua vez procurarão impor a sua vontade e a sua política às escolas de uma forma directa ou através das autarquias. No fim da cadeia de produção os professores produzirão os documentos, fichas e reuniões que o director lhes imponha, muito embora possam continuar a leccionar exactamente da mesma forma que sempre o fizeram, copiando o modelo aprendido dos seus professores há dez, vinte, trinta ou quarenta anos.
A alternativa seria, de facto, um modelo de avaliação reflexiva e formativa. Julgo ser esse o desejo da Avó Pirueta e do JMA. É também, com toda a certeza, o desejo da esmagadora maioria (não arrisco afirmar que seja a totalidade) dos professores. Mas a primeira condição para que a avaliação pudesse ser formativa era que não se traduzisse linearmente numa classificação, e estivesse desligada de prémios de progressão ou de prémios remuneratórios. Claro que nessas circunstâncias deveria ser obrigatoriamente uma avaliação entre pares. Mas isso exigiria também um modelo de gestão assente no profissionalismo docente, em formas de gestão partilhada e com uma matriz em rede. Exigiria autonomia pedagógica e curricular que são o oposto de um perfil predeterminado de professor e de relação professor-aluno. Exigiria, enfim, que não se confundissem os direitos e deveres dos diferentes stakeholders de cada escola.
Entretanto, até que esta avaliação e este modelo de gestão possam ir parar ao caixote do lixo, resta-nos não fingir que a avaliação é aquilo que gostariamos que ela fosse (avaliação formativa), combatendo de forma inteligente aquilo que ela efectivamente é (classificação de serviço limitadora da progressão na carreira).
Na minha modesta opinião, a única forma de o fazer inteligentemente, é bloqueando-a. Para isso devemos exigir a sua aplicação integral, de forma a que não seja possível estar concretizada, por excesso de burocracias inúteis, no final do ano lectivo. Até porque, no limite, é a única forma de diminuir para níveis aceitáveis as eventuais injustiças entre professores.
Concordo com todas as premissas. Não tenho a certeza sobre a forma de bloquear esta dita avaliação que é muito bem descrita como uma “classificação de serviço limitadora da progressão na carreira”.
Gostaria muito que os professores conseguissem bloquear esta avaliação de outra forma. Dizendo não: não a aplicando; sendo capazes de apresentar uma outra que fosse amplamente debatida e se conseguisse chegar a um consenso mínimo;e por fim sendo capazes de obrigar o poder político a discuti-la nessa base. Sei que isso é extremamente difícil de conseguir pois exigiria um grau de consciência política e profissional que não vejo assim tão espalhado pela “classe docente”. Mas essa era e é uma das funções dos sindicatos e mais propriamente da Fenprof a quem eu reconheço representatividade e seriedade para com os professores. Isto é um desejo. Mas é um desejo pelo qual vale a pena lutar. Entretanto, é preciso ir fazendo outras pequenas coisas e partir pedra. E é o que vejo fazer e com muito interesse aqui nos vossos blogues.
Em resposta a um Artigo do Professor José Gil na Revista Visão:
Obrigado Professor (meu Professor na Faculdade)por “dar voz” a todos, quase todos, pelo menos a 100 mil(mesmo que não tenha sido essaa intenção)… os 100 mil que foram esmagados com esta política educativa, diria burocrática, aterradora e errada. Ao que o Professor disse, eu, que estou no terreno, acrescentaria: da fase da escravidão e da não- inscrição, passámos á fase do medo. Sim, medo de nos expressarmos, porque a avaliação encontrou mecanismos para nos calar. Daí, a não inscrição de uma classe profissional, que é a mais informada e crítica: a dos Professores.
Os Professores não são imbecis; são os mais qualificados. Para além das Licenciaturas, os actuais Professores realizaram um Estágio de dois anos, uma autêntica Pós-graduação, com aulas assistidas, trabalhos de investigação, etc. Tdos temos Carteira Profissional. Se errámos é porque tivemos que nos adaptar a este Mundo em constante mudança, que não deixa tempo para pensar e reflectir adequadamente.
No meu caso foram 6 anos de preparação e mais três de Mestrado em Educação. Não devo ser tonto! Uma coisa é certa, a minha Formação não foi feita no Modelo “Novas Oportunidades”.
Agora sinto-me minimizado, despromovido, desanimado e com receio de fazer valer a minha opinião. E isso tem um preço: a Cidadania que ensinamos aos nossos alunos está-nos vedada.
Hoje, nas Escolas, tudo, mesmo tudo, gira à volta deste Modelo de Avaliação e da sobrevivência profissional e familiar. Em vez disso, deveriamos estar centrados nas aprendizagens dos alunos.
Tanto eu como eles (os alunos)vamos ter muita dificuladade em nos “inscrevermos”. Caminhamos para a alienação e para a obediência cega.
Por isso estou preocupado comigo e com as futuras gerações. Serão nêsperas ou ovelhas, que em rebanho apenas se preocupam com a sobrevivência, perdendo todo o sentido crítico e participativo, que é a espinha dorsal de qualquer Democracia.
Seria interessante que as pessoas que têm voz nos média (Meios de Comunicação Social) fizéssem uma investigação e/ou auscultação sobre o que se passa nas Escolas e sobre este Modelo de Avaliação. Acredito que ficariam espantados com os procedimentos aleatórios, relativistas e excessivamente controladores e ainda absurdamente burocráticos.
Amigo KAFKA, volta! Estás perdoado!
Desde o ano passado que exijo que se cumpra escrupulosamente a legislação. Estou convencida que é irrealizável. Quando me manifestei conhecia a lei e não o fiz por ser contra a avaliação mas contra esta avaliação.
O ME e os CEs ainda não perceberam a monstruosidade em que se meteram porque vivem num limbo. Perfilam-se situações engraçadas sendo a primeira a fila de entrega de objectivos individuais. Alguém se lembrou que nas escolas secundárias há mais de 150 professores que têm aulas e que, por ser a primeira vez, vão esperar por novas informações até ao último momento? Segue-se a entrevista: 3 elementos do CE a falar com 150 (ou +) profs. Dá cerca de 50 horas para cada um, o que significa que durante semana e meia a escola pode cair que ninguém de direito dará por nada porque estarão na terceira dimensão.
Haverá motivos para não exigir o cumprimento da lei?
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