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Quando eu era um rapazinho, de bibe e calções, a minha professora primária (era assim que eram tratados os professores do 1º ciclo) ensinou-me que somar batatas com cebolas e tomates só era bom para fazer uma bela de uma caldeirada. Era aquilo a que se costumava chamar de “misturar alhos com bugalhos”.
Talvez porque a ministra da educação é um tudo nada mais nova do que eu, talvez porque não teve a felicidade de ter conhecido a minha professora primária (era assim que eram tratados os professores do 1º ciclo), a senhora não sabe que quando se misturam alhos com bugalhos sai “caldeirada” na certa.
Por isso não se coíbe de fazer comparações entre realidades que não são comparáveis.
É que o motivo porque os jovens portugueses não têm tanto sucesso académico como os jovens de outros países, tem muito pouco a ver com a Escola e tem quase tudo a ver com a sociedade e com as políticas públicas, que os respectivos governos põem em prática.
Tomemos como exemplo a questão dos filhos dos imigrantes:
Por cá, em muitas situações, é como se nem existissem. Sem qualquer apoio de integração, vivem em situação semi-clandestina, nos limites da marginalidade. Na escola, são obrigados a cumprir um currículo extenso, leccionado numa língua que não dominam, sem que a escola disponha de recursos materiais e humanos para dar efectivo cumprimento a um programa de língua portuguesa para não falantes.
Nos países de sucesso de que fala a ministra, os mesmos filhos de imigrantes têm um período inicial de aprendizagem da língua em que é ministrado o currículo, e só depois são plenamente integrados no sistema escolar. Ou em alternativa frequentam escolas bilingues, permitindo-lhes uma integração plena no sistema.
E no que respeita às condições de trabalho das famílias e ao tempo que têm para acompanhar as suas crianças?
Quando temos nas nossas escolas percentagens elevadas de alunos cujos pais labutam diariamente pela sobrevivência, como é que podemos esperar que os jovens cumpram com sucesso as exigências de um currículo de figurino único?
A menos que o sucesso a 100% tenha por base a falsificação e a fraude, não é possível decretar a aprovação da totalidade dos alunos no final de um ciclo de escolaridade.
Excelente argumentação! É com argumentos destes que o discurso de MLR tem de ser desmontado.