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A profissão docente caracteriza-se por uma enorme contradição entre uma atração (quase fatal) para o isolamento e a fragmentação e uma cada vez maior necessidade de trabalho cooperativo. Não importa agora discutir porque é que isso acontece mas, pelo contrário, tentar perceber em que medida esse isolamento profissional condiciona a atitude dos professores face ao movimento sindical e à necessidade de contestar as políticas educativas.
Vem isto a propósito da forma algo desbragada como alguns professores, em particular os que se arrogam o direito de uma representação profissional “supra-sindical”, têm criticado os sindicatos de professores que, pela primeira vez em três décadas, conseguiram entender-se numa plataforma única contra o ministério.
Olhando para o que se diz e se escreve, seja em reuniões restritas, seja em blogues de leitura pública e grande circulação, fica uma dúvida por esclarecer: o que é que move estas pessoas que, sendo professores, exigem dos seus únicos representantes legais um comportamento eticamente irrepreensível e, ao mesmo tempo, vão espalhando traulitada contra colegas, sejam sindicalizados ou não, que discordam dos seus pontos de vista?
Os exemplos são inúmeros mas, por uma questão de conhecimento próximo, os que se seguem são suficientemente significativos para promover uma reflexão urgente entre os professores que querem combater as políticas educativas de MLR, antes de combaterem as direcções sindicais.
Muito mais importante do que ir a esta farsa de manifestação será ir às Caldas da Rainha participar na Assembleia Geral da APEDE (…) com a garantia que os professores que fazem parte da APEDE não existem para espetar o punhal nas costas dos colegas como os sindicatos – todos – tão bem sabem fazer…
Estou farto desses******** dos sindicatos e não lhes devo nada!» FT
«…devo dizer que fui, tal como o Francisco Santos, e outros (poucos) colegas, à vigília na 5 de Outubro. Aquilo não foi uma vigília, foi mesmo um velório, o velório da grande MANIFESTAÇÃO de dia 8 de Março!!! Apesar dos berros desgarrados dos representantes da plataforma, que se foram sucedendo no uso da palavra, tentando cada um pior que o outro (pois às tantas já ninguém ouvia ou ligava patavina) justificar o injustificável, a sensação que ficou é que a luta MORREU, está MORTA e ENTERRADA! (…)
(…)Amanhã se verá até que ponto ficou abalado o movimento genuíno de professores, que levou 100 mil à rua, no dia 8 de Março! Amanhã veremos o que consegue a FENPROF (e a plataforma) mobilizar, depois do que aconteceu! Amanhã veremos que falta fazem afinal os professores que fizeram a diferença a 8 de Março! » RS
Afinal o que é que se pretende com este discurso? Quem escreve (e se atreve a fazer estas afirmações em público) persegue que tipo de objectivos? Imaginam estes professores que são uma vanguarda iluminada que irá varrer os sindicatos para o caixote de lixo da história? Acham que representam o quê e foram ungidos com que ligitimidade? Será que não se dão conta de que este discurso divide em vez de acrescentar? E que isso constitui o maior obstáculo ao combate contra o governo e as suas políticas educativas?
Ou será que gostavam de mudar os sindicatos e refazê-los à sua imagem e semelhança? É que se o objectivo é esse, sendo perfeitamente legítimo, exige uma estratégia completamente diversa: terão que se inscrever, pagar quotas, participar nas assembleias, promover reuniões e debates, construir programas alternativos e concorrer aos órgãos sociais. Não há outro caminho!
Neste caso vem-me à memória uma máxima dos tempos de juventude – «Quem está fora, racha lenha»…