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~ Defendendo a Cidadania

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Daily Archives: Maio 4, 2008

O Regresso ao Passado, versão centrão!

04 Domingo Maio 2008

Posted by fjsantos in cidadania, desemprego, educação

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óh tempo volta pr'a trás

Na sua crónica de ontem no Público, já disponível também no Abrupto, Pacheco Pereira fez uma brilhante análise sobre o que significa, nos nossos dias, o despedimento colectivo de centenas de operárias. Fê-lo com um olhar histórico e sociológico, que merece uma atenção profunda de quem quer viver neste país e não está disposto a resignar-se a um retorno ao passado, que julgávamos há muito enterrado:

«Mas nem por não se ter qualquer solução a curto prazo, a sociedade, nós todos, devemos deixar de olhar para cada um destes desempregos colectivos de mulheres sem a preocupação de vermos e sentirmos a devastação que ele tem por trás, o atraso social que isto significa para Portugal. Estas mulheres não vão educar os seus filhos da mesma maneira, vão reproduzir melhor o Portugal antigo do que preparar o novo. Elas sentem que falharam, tinham algumas ilusões que perderam. Mas nós falhamos mais se não temos a consciência de fazer alguma coisa. Porque se pode, na acção cívica, no voluntariado, no mundo empresarial, na política, fazer muita coisa por estas mulheres. O que é preciso é vê-las e à sua condição e não as cobrir com o manto diáfano da inevitabilidade. A começar pelo Governo, que mais uma vez se vai voltar para o betão e não para as pessoas.»

Como Pacheco Pereira bem nota, «estas mulheres não vão educar os seus filhos da mesma maneira, vão reproduzir melhor o Portugal antigo do que preparar o novo.» Infelizmente é para aí que também nos têm conduzido as políticas educativas dos últimos vinte anos: para um regresso ao passado, em que o acesso ao conhecimento, à cultura e a uma educação de qualidade volte a ser privilégio de algumas elites e para as classes trabalhadoras fique assegurada apenas a formação mínima, que as torne rentáveis para o capital.

Passar ou chumbar? … eis a questão

04 Domingo Maio 2008

Posted by fjsantos in educação, escola pública

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qualidade, Rigor

A disputa entre os defensores do rigor do chumbo vs. facilitismo da passagem, contra os defensores do rigor da passagem vs. facilitismo do chumbo, seria uma peça humorística de fino recorte, caso não estivéssemos a falar de algo tão sério como a educação escolar.

Mas afinal o que separa estes contendores? Porque é que tanta gente e com tanta experiência acumulada acha que a escola, para ser rigorosa e de qualidade, tem que penalizar através da retenção (vulgo chumbo) quem não cumpre os objectivos? Será que esta posição é incorrecta? Afinal como é que alguém (a ministra da educação) se atreve a afirmar que fácil é chumbar os alunos e deixá-los para trás, entregues ao abandono? Porque é que outras pessoas, também com grande experiência e reflexão na área da educação, acompanham esta visão oficial?

Provavelmente nem uns nem outros fazem o esforço prévio de explicitar o seu conceito de escola. Não o fazem por motivos diferentes, mas isso acaba por conduzir a uma conversa de surdos, em que ninguém está disponível para ouvir os argumentos contrários.

Efectivamente, antes dos burgueses terem percebido que o conhecimento e o saber académico podiam constituir a mola para a sua ascensão social, a escola era apenas um lugar onde os mestres ensinavam e os alunos ou aprendizes aprendiam. Nesse tempo antigo não existia a ideia de chumbo, porque o ensino era individualizado e, como tal, cada aluno aprendia ao seu ritmo, demorando o tempo necessário para fazer as suas aprendizagens, até passar ao nível seguinte.

Entretanto, à medida que o número de crianças e jovens que iam acedendo à aprendizagem das letras foi aumentando, os mestres começaram a ter um problema com a gestão do seu tempo: já não conseguiam acompanhar cada indivíduo, ajudando-o a progredir e a ultrapassar as suas dificuldades. Arranjaram então alguns ajudantes, que eram os alunos mais adiantados, que funcionavam como uma espécie de monitores dos mais novos. Estes, por sua vez, eram agrupados por níveis, constituindo-se uma espécie de turmas de nível. A transição de um nível para o seguinte fazia-se mediante a prestação de prova de que as competências do nível mais baixo estavam adquiridas.

Com a generalização do acesso à escola os problemas de organização complicaram-se. Para fazer face a este acréscimo de problemas o Estado recorreu aos princípios weberianos em que se baseava toda a sua organização. E da organização dos colégios dos jesuítas chegámos ao liceu napoleónico, em que à mesma hora, em todas as escolas se ensinavam as mesmas matérias, seguindo os mesmos métodos.

Simultaneamente, para a classe média que detinha já algum poder económico, mas não usufruia ainda do reconhecimento social, a obtenção de um diploma escolar passou a constituir uma garantia de mobilidade social ascendente. Nessa altura a escola passou a ter, além da função primordial de educar e instruir, a função de certificar a selecção que garantia a ascensão na escala social. O mecanismo que garantia essa selecção era o chumbo  e foi a partir daí que se tornou sinónimo de rigor.

Feita esta breve e necessariamente incompleta resenha histórica, torna-se mais fácil perceber o que está em confronto quando uns e outros se acusam de facilitistas. Uns porque defendem o chumbo, outros porque defendem a transição. Na verdade, nem uns nem outros têm razão, pelo simples facto de que uns e outros escondem o que não querem que se saiba:

  • Quem defende que o chumbo é sinónimo de rigor esconde que a função que considera essencial na escola ainda é a função de selecção e garante de distinção social;
  • Quem defende o fim das retenções esconde que, para garantir a qualidade e o rigor das aprendizagens, não pode ter uma escola assente na actual organização curricular e muito menos com a obediência estrita aos calendários e horários controlados centralmente.

Uma escola em que todos os alunos possam ter tempo para aprender ao seu ritmo tem que ter muito mais recursos humanos e materiais. Tem que ser uma escola mais pequena, onde os valores comunitários possam ser fortalecidos. Tem que permitir mobilidade aos alunos, respeitando a sua diversidade. Tem que lhes dar tempo e não impor ritmos desajustados e iguais para todos.

Em resumo, para que a escola volte a ser sobretudo o lugar em que se aprende, mais do que o lugar em que se reproduz a selecção e a diferença social, não pode continuar a ser uma escola aos quadradinhos: quadradinhos tempo (ano/período/tempo lectivo); quadradinhos espaço (sala/turma); quadradinhos disciplina. Tem que poder organizar-se de forma diferente e para isso não pode continuar a ser estrangulada financeiramente e muito menos pelos mecanismos de controle burocrático e centralizador do ME.

25 de Abril no Arripiado – Um Olhar Sobre a Escola

04 Domingo Maio 2008

Posted by fjsantos in cidadania, educação, escola pública

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arripiado, constância

Passados já alguns dias sobre o evento venho dar nota de um encontro de alguns professores do ensino básico e secundário com professores universitários, no sentido de promover uma forma de olhar para a escola para além das questões mais mediáticas e imediatas.

O encontro aconteceu na linda aldeia do Arripiado, à beira Tejo e com o castelo de Almourol ao fundo.

Enquanto grande parte dos participantes se deslocou de automóvel até ao Arripiado ou até Tancos, onde atravessaram o rio numa embarcação gentilmente cedida pela Junta de Freguesia desta aldeia, outros mais dados à aventura resolveram descer o Tejo em canoa, desde Constância.


Toda a programação do encontro e das actividades lúdicas se ficou a dever a uma iniciativa promovida por professores de uma escola de Sintra, que têm sentido necessidade de reflectir sobre a educação, o sistema educativo e a profissionalidade docente no quadro das profundas alterações que lhe vêm sendo introduzidas pelas actuais políticas públicas de educação.

Os participantes, espelhando a diversidade de origens, formações e formas de olhar a escola, puderam debater os seus pontos de vista com grande abertura de espírito e sentido democrático.
No final de uma tarde que foi longa, o sentimento foi o de que tinha valido a pena ouvir vozes nem sempre concordantes, mas com as quais todos acabaram por acrescentar algo aos seus próprios pontos de vista.

Correio Electrónico!

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