Sobre o caso mais do que gasto do telemóvel, da professora de Francês e da aluna a quem o MP decidiu abrir um inquérito, já foram gastas muitas linhas e muitas palavras. Na verdade o assunto tresanda, mas parece que apesar de toda a gente saber como classificar o acontecido, muito poucos são capazes de avaliar a história.
O que se passou no Porto com a professora de Francês e a aluna do telemóvel é lamentável. Essa avaliação está feita e penso que é pacífica. Já a classificação incriminatória que é feita da atitude da aluna, por contraponto à classificação desculpabilizante da atitude da professora, parece-me pouco honesta e pouco inteligente, se quisermos aprender algo como a situação.
É claro que lamento profundamente o que aconteceu naquela sala de aula. Tal como lamento todos os outros casos que não conhecemos, mas sabemos que ocorrem regularmente em muitas salas de aulas de todo o país.
Não acredito é que se resolva o problema punindo apenas a aluna, se ao mesmo tempo todos os adultos (principalmente os professores) não reflectirem sobre a forma como têm necessidade de aprender a avaliar as situações de tensão na sala de aula.
Com todo o respeito que tenho por um currículo brilhante como o que aquela professora tem, a avaliação que faço é que ela não estava de facto preparada para enfrentar a situação em que se envolveu. Com esta afirmação não quero condená-la. Pelo contrário, quero absolvê-la de um conjunto de culpas que não tem.
O que aconteceu naquela sexta feira é consequência de uma série de decisões erradas, todas elas tomadas por adultos (professores e gestores escolares) que tinham a obrigação de saber avaliar o potencial de conflito que desaguou na história do telemóvel e no youtube.
Tudo começou com o Conselho Executivo e o Conselho Pedagógico que determinaram (ou foram complacentes) com a constituição daquela turma; continuou com o Conselho Executivo e a Comissão de Horários, através da distribuição de serviço lectivo, que colocaram naquela turma (9º ano com alunos vindos de outras escolas) uma professora que há vários anos estava fora da realidade escolar; e terminou com a decisão “aventureira” da professora usar a força contra uma aluna, que ainda por cima é manifestamente mais forte do que ela.
Só podia ter terminado naquele disparate.
Por vezes também eu preciso de “confiscar” alguns telemóveis e outros objectos que os meus alunos trazem para as aulas. Tenho 1,72 e quase 90 kg, mas ainda assim não me passa pela cabeça pegar no objecto e tirá-lo ao aluno. Pelo contrário, uso a “minha autoridade” de professor para que seja ele a entregar-mo na minha mão.
“Essa” é a diferença e “esse” tem que ser “o método”. Se não resultar evito expor-me a uma situação de confronto “em igualdade” e posso sempre recorrer a um pedido de ajuda exterior. Em último caso, uma vez que não exista confronto físico, posso sempre abandonar a sala e redigir a competente participação de ocorrência, dando início a um inquérito aos acontecimentos.
Não penso que seja preciso preparar “Rambos” para leccionar nas escolas portuguesas do ensino básico e secundário. Acredito firmemente é que todos os professores têm que saber que a Escola em 2008 já não é a Escola dos anos 70/80 do século passado, nem muito menos a Escola do Estado Novo, em que mesmo os alunos mais timoratos se curvavam perante a “autoritas” do professor. Como acredito que nós professores só podemos ensinar a Cidadania através do exemplo, usando os nosso direitos e praticando os nossos deveres de Cidadãos, o que evidentemente passa por não baixarmos o nível como manifestamente aconteceu naquela sala daquele liceu.
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Concordo em absoluto. O professor não deve em circunstância alguma colocar-se ao nível do aluno. A medição de forças com um aluno adolescente é quase sempre imprevisível. Concordo que há necessidade de formação específica nesta área da indisciplina na sala de aula e em outras como a avaliação dos alunos onde tenho visto algumas aberrações.